Única casa da Madeira comandada pela mesma família desde a fundação é referência
O Arquipélago da Madeira pode ser considerado como uma terra de extremos: distante quase mil quilômetros de Lisboa, seu pequeno território de 750 km2 é coberto por solo vulcânico, possui a impressionante altitude média de 1370 metros, e sua costa é marcada por imensas escarpas com praias cobertas de pedras. Não é de se esperar que seu vinho seja o resultado de muito trabalho e sofrimento!
O vinho é feito na região praticamente desde a sua descoberta oficial em 1419, e dentre os produtores, a referência máxima pertence à Blandy's, casa fundada em 1811 e que, desde então, permanece sob o comando da mesma família (hoje na sétima geração), sendo a única com esta resiliência.
O resultado do que só pode ser descrito por uma grande paixão pela difícil produção de vinho no arquipélago subtropical foi a modelação, principalmente pela Blandy's mas por todas as marcas da Madeira Wine Company (comandada pela família Blandy) do que é hoje o Vinho Madeira. E muitos especialistas já comprovaram que ali se faz vinhos com muita seriedade.
Em termos de premiação, as menções à Blandy's geralmente são acompanhadas de generosos adjetivos: para Oz Clarke, seus vinhos safrados são considerados "soberbos", e merecem sua nota máxima de três estrelas; para Hugh Johnson, que atribui duas a três estrelas, as safras mais antigas são encantadoras; e Jancis Robinson atribuiu sua nota máxima de 20 pontos a um Malmsey de 1880, o qual, aos 130 anos, mantinha traços de sua juventude. Outra publicação inglesa, a Decanter Magazine, atribuiu um recorde de 11 medalhas de ouro e 10 de prata à casa em 2012.
Quais características locais explicam tamanho sucesso? Primeiramente, claro, a forte dependência que a ilha tem da indústria, que, ao lado do turismo, é a única que mantém a economia Madeirense. Em segundo lugar, uma somatória de persistência, quase teimosia, em fazer vinhos num relevo extremamente montanhoso, difícil de se produzir qualquer coisa, com um solo vulcânico rico em matéria orgânica e um clima relativamente quente - indicativos de que o vinho, por ali, tem tudo para falhar.
O processo produtivo deste vinho também tem outras peculiaridades: as vinhas mais antigas ainda são produzidas em pergolado, e apenas as mais novas são plantadas em espaldeira. As uvas são então fermentadas até a adição de álcool vínico a 96°, numa operação praticamente matemática para se obter a graduação alcoólica e teor de açúcar que se deseja.
O envelhecimento ocorre num método inspirado em antigas práticas, chamado estufagem, no qual o vinho permanece sob uma temperatura controlada quase estável de 50°C por um período de 90 dias em tonéis de aço inox, aproximadamente. Embora a estufagem seja mais comum, os vinhos de maior qualidade (aproximadamente 10%) passam pelo sistema de canteiro, no qual o vinho permanece por cerca de 2 anos em barris de madeira nas partes mais altas dos depósitos, oxidando e envelhecendo de forma mais lenta e gradual.
O resultado é um vinho extremamente versátil, com uma acidez tão alta que pode corroer a rolha (e por isso a sua guarda deve ser sempre em pé), e com uma complexidade aromática quase sem paralelos no mundo do vinho. O período de guarda pode ultrapassar um século em alguns casos, e mesmo aberto ele dura muito mais que outros fortificados, como Porto ou Jerez, e a explicação dos locais é simples: com tanta acidez, fortificação e calor, já se fez tudo de mal que poderia ser feito ao vinho.
O mais interessante é descobrir que este vinho, que é tido por muitos como um mero ingrediente culinário, possui aromas e sabores tão distintos e únicos, e capazes de harmonizar com alimentos diversos - desde queijos, salames e azeitonas a chocolates e até mesmo charutos.
Ao escolher uma bebida refinada para aperitivo, ou para celebrar um grande feito com um brinde (a Independência Americana foi brindada com um vinho Madeira), a Blandy's faz alguns dos maiores e mais refinados vinhos da região.
Notas de Degustação
Rainwater Medium Dry
De cor amarelo caramelo, possui nariz de frutas secas, figo ramy e uma certa mineralidade,. Em boca, é apenas levemente doce e com uma média persistência, final com sabores tostados. A acidez está bem controlada.
Duke of Clarence Rich
A cor é um castanho de média intensidade neste vinho, que possui um nariz complexo com frutas secas, madeira, boca com acidez mais pronunciada, abacaxi caramelizado. Em boca é intenso e bem persistente, com final mais adocicado que o Rainwater.
5 Years Old Malmsey Rich
Com um tom mais escuro de castanho, neste exemplar o nariz possui aroma de folhas secas somado a caramelo, frutas secas, baunilha e tostados. Em boca, tem sabores mais tostados e maduros, e acidez bem equilibrada. Grande diversidade de aromas e sabores.
Alvada 5 Years Old Rich
Em taça, este vinho é castanho escuro, nariz com aromas bem pronunciados de frutos ácidos (casca de laranja seca e abacaxi). Em boca, é uma opção mais adocicada, com pão tostado e madeira molhada. Demonstra bastante versatilidade.
10 Years Old Sercial Dry
Possui uma bela cor amarela dourada envelhecida, com um nariz bem distinto com aromas quase defumados. A boca possui bastante acidez, que está bem equilibrada com o teor de açúcar, e com um toque de salinidade muito interessante, que lembra o encontro da flor de sal no doce de leite. O final tem um toque suavemente amargo muito interessante, que praticamente convida ao próximo gole.
Bual 1980
O envelhecimento já é mais notável neste vinho de colheita, que possui a cor amarela com castanho intenso límpido e brilhante. No nariz, os aromas terciários, típicos do envelhecimento, encontram nozes, cascas de frutos cítricos secas, flores amarelas secas, muito complexo e marcante. A boca é mais untuosa, e ainda está repleto de frutas! A acidez é marcante, mas com muita elegância. Muito longa persistência, final que mistura abacaxi caramelizado com um pouco de amargor. Apenas 1000 garrafas foram feitas, mas quem o tiver pode aguardar mais 30 anos que ele ainda tem muito a crescer!
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