Com baixo rendimento e criatividade, casa reinventa as regiões onde se instala
Poucos nomes na vinicultura atraem tanta atenção quanto Michel Chapoutier, enólogo da Maison que leva o nome de sua família, e os elogios são facilmente justificáveis ao se provar os seus vinhos e conhecer seu trabalho, voltado principalmente à produção biodinâmica e orgânica.
Com uma história relativamente antiga, a Maison M. Chapoutier iniciou sua história oficialmente no Rhône em 1808. Contudo, grande parte da atenção que hoje se dá tanto à Maison quanto à região se devem ao gênio de Michel Chapoutier que, aos 24 anos, assumiu as vinícolas da família com seu irmão Marc e, desde então, vem revolucionando a forma de se fazer vinhos em diversas regiões francesas.
Isto porque Michel Chapoutier não se acomodou apenas com o Vale do Rhône, mas acabou se espalhando por quase toda a França, da Champagne à Provence, e tendo chegado ainda a Portugal, Austrália e Estados Unidos (com novidades a caminho). A multiplicidade de regiões, aliada com a produção de baixo rendimento, acaba oferecendo 240 rótulos para 240 hectares que produzem 8 milhões de garrafas, numa proporção inimaginável para a maioria das vinícolas, mas que é plenamente justificável na premissa da Maison M. Chapoutier.
Os rendimentos de seus vinhedos são sempre baixos, decorrência de uma agricultura que não visa a alta lucratividade, mas sim a sustentabilidade da produção. Os vinhos não são filtrados, pois sua busca é de sempre demonstrar a verdade de cada terroir e de cada safra, interferindo ao mínimo no que se adquire das plantas - não à toa, o lema da casa é Fac et Spera, ou "faça e espere".
A espera não se aplica apenas à produção: por se tratarem de vinhos extremamente longevos, muitas vezes são necessários alguns anos para que se obtenha o melhor de cada um. O Châteauneuf-du-Pape Croix de Bois de 2009, por exemplo, apenas agora começa a demonstrar algumas de suas melhores características, mas merece aguardar ainda alguns anos antes de ser aberto.
A crítica também parece ser unânime em aclamar os vinhos de Michel Chapoutier: Hugh Johnson atribui um máximo de 4 estrelas aos seus vinhos, destacando seu Hermitage L'Ermite como excepcional, e Oz Clarke também confere suas três estrelas máximas a nada menos que quatro de seus rótulos. A Révue du Vin de France ainda incluiu 22 de seus vinhos entre os melhores de 2015, e ressalta a pureza e complexidade dos seus brancos, bem como o frescor defumado dos tintos, principalmente originados de Syrah.
Os vinhos foram degustados na presença do diretor de vendas Antonin Bonnet, que fez mistério sobre os futuros empreendimentos de Michel Chapoutier, mas que também deixou claro que são vinhos com características apreciadas em todos os grandes mercados consumidores. Embora o enólogo da casa ainda seja jovem, completando apenas 52 anos, seus filhos já têm participação na casa também, e Mathilde, a filha, já ajuda a comandar diversos aspectos do negócio da família.
A genialidade e o cuidado de Michel Chapoutier como enólogo-chefe da Maison M. Chapoutier certamente causará um "antes e depois" em qualquer região onde se instalar.
Notas de degustação
Côtes du Rhône Belleruche blanc 2013
Com nariz de frutas e flores brancas com notas de amêndoas tostadas e baunilha, é delicado e elegante. No paladar, o frescor da acidez e a mineralidade o tornam ideal para acompanhar entradas com queijos frescos ou ricota e legumes cozidos.
Schieferkopf Gewurztraminer 2012
Os aromas mais característicos de lichia e jasmim encontram notas discretas de pêssegos e xisto molhado, e a boca, untuosa e generosa em sabores de frutas, com acidez mais pronunciada que a média dos Gewürztraminer, e um final ligeiramente sucré muito agradável.
Marius Rosé 2014
A taça se mostra rosada suave, ligeiramente dourada mas sem chegar no tom casca de cebola da Provence. Aromas de frutas vermelhas (morangos) com notas minerais, que também se mostram muito presentes na boca. Um rosé muito vivo e refrescante.
Bila-Haut Côtes du Roussillon Villages Occultum Lapidem 2013
Um vinho com 94 pontos atribuídos por Robert Parker, finalmente disponível no mercado brasileiro. Trata-se de um dos mais novos ícones tanto da M. Chapoutier quanto do Roussillon, e é um vinho de grande frescor e elegância. O nariz, embora um pouco ligeiro, traz aromas de frutos do bosque vermelhos (cerejas, framboesa) com uma nota defumada muito delicada.
Domaine Tournon Mathilda Shiraz 2012
Um Shiraz que foge à regra da madeira pesada, este vinho é maturado em tanques de concreto, o que permite destacar as notas de frutas negras (cassis). Os taninos, embora não tenham sido aparados pela madeira, estão bastante redondos, sem agredir o paladar. Bastante fresco e gastronômico, possui uma boa relação custo-benefício para um vinho desta categoria.
Crozes-Hermitage Les Varonniers 2012
Escolhido por Robert Parker como o melhor Crozes-Hermitage, este vinho vem das vinhas mais antigas de Chapoutier na região, e possui bastante estrutura. Aromas complexos que incluem frutos vermelhos e alcaçuz, é bastante persistente em boca com um final que lembra geleia de amoras. O produtor destaca a longevidade desse vinho, que pode chegar a 75 anos!
Châteauneuf-du-Pape Croix de Bois 2009
Provavelmente o melhor vinho da noite, recebeu 95 pontos de Robert Parker. Potente e aromático, é feito 100% com uvas Grenache, o que resulta num vinho generoso em boca e com taninos que parecem progredir em intensidade. A picância esperada desse tipo de vinho causa uma agradável sensação de calor, talvez pelos seus 15,5% de álcool, numa experiência sensorial muito completa, sem dúvida um vinhaço!
Hermitage M. de la Sizeranne 2011
Ao buscar os melhores vinhos feitos com a Syrah, este é certamente o destino. Feito com a melhor seleção das uvas produzidas nos diversos solos da região, a passagem de 12 a 14 meses em madeira garante uma complexidade quase sem paralelos aos seus aromas, que vão das frutas vermelhas e negras ao café moído, pimenta-do-reino e anis. Embora potente, é elegante e aveludado no paladar.
Uma curiosidade: foi por um membro com deficiência visual da família de la Sizeranne, fundadora dessa casa, que todos os rótulos da M. Chapoutier começaram a ter a inscrição em braile: Maurice, presidente da Associação Francesa de Cegos.
Banyuls Rouge 2011
O vinho de sobremesa apresentado foi uma excelente surpresa, com uma acidez compatível com as mais difíceis harmonizações e um teor de açúcar bastante equilibrado e contido. Os aromas de frutas vermelhas quase cozidas encontram cacau e baunilha, o que sugere uma ótima companhia para doces à base de chocolate.
Pinteivera Touriga Nacional
O vinho português de Michel Chapoutier é feito no solo xistoso do Douro, e conquistou a crítica internacional logo em sua primeira safra de 2009. Os aromas de frutas vermelhas e negras encontram um aroma quase mineral, semelhante a grafite, e o paladar se mostra muito potente e corpulento, mas aveludado e com frescor mineral. Bastante distinto, mostra a marca de Chapoutier neste terroir tão particular.
Os vinhos da M. Chapoutier chegam ao Brasil pela Mistral, e podem ser adquiridos por seu site www.mistral.com.br.
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