O dia 12 de novembro ficou marcado pelas imagens de uma das piores enchentes da história de Veneza, com a água do mar invadindo a Piazza di San Marco e muitos dos seus monumentos sob ameaça. Muito próxima dali, a ilha de Mazzorbo também sofreu as consequências, com os últimos vinhedos da variedade branca autóctone Dorona sendo ameaçados.
Não teria sido a primeira vez que a vinícola Venissa, localizada na ilha, teria sofrido com as enchentes: em 1966, a altura da água foi ainda maior, e acabou destruindo uma indústria vinícola de mais de 2500 anos de idade, restaurada apenas em 2002 quando algumas vinhas de Dorona foram descobertas na ilha de Torcello por Gianluca Bisol, famoso produtor de Prosecco, que retomou a produção em Mazzorbo.
A variedade, também chamada de "a uva dourada de Veneza", é acostumada à salinidade, afinal os terrenos baixos são cercados pela água do mar, expondo parte das raízes a estas condições. Embora as marés altas não sejam novidade, como tudo na vida, o excesso pode ser fatal, ameaçando este esforço de reproduzir um vinho que já era bebido desde a época dos Doges de Veneza, há mais de 500 anos.
O ano de 2019 seria a décima colheita, que, de acordo com as imagens postadas pela própria vinícola em seu perfil no Instagram, ainda resistem, mas é cedo para saber o resultado na produção. A esperança principal reside no fato de que a água foi rápida para baixar neste ano, ao contrário de 1966, quando o sal afetou as vinhas por diversos dias - neste ano, foram algumas horas apenas, seguidas de imediato bombeamento de água fresca para tirar o excesso do sal, medida que pode salvar as plantas e a produção.
O tempo dirá se o esforço da família Bisol será recompensado pelo esforço de manter viva a tradição vinícola nas ilhas venezianas, ou se vamos ficar apenas com os relatos daqueles que já conseguiram provar a produção - até que, com sorte, alguém decida insistir na empreitada e desafiar a alta da maré.
Fotos: Divulgação Venissa (www.venissa.it)
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