Poucos nomes no mundo do vinho ganharam uma reputação tão grande quanto o Don Melchor, reconhecidamente um ícone não apenas do Chile, mas da Cabernet Sauvignon. O que muita gente não sabe é que este sucesso é resultado de um trabalho muito intenso de pesquisa e conhecimento do solo, além de uma busca por identidade própria.
A história do Don Melchor, que leva o nome do patrono da Vinícola Concha y Toro, representa um marco na busca pela qualidade no vinho chileno, quando em 1986 o mestre francês Emile Peynaud foi convidado a conhecer os vinhedos de Puente Alto - hoje uma Denominação de Origem. A primeira colheita foi feita em 1987, e já na safra seguinte o Don Melchor ganha reconhecimento da publicação Wine Spectator como um dos melhores do mundo, iniciando uma sequência de sucesso e de muitas avaliações excelentes, prêmios e reconhecimento mundial.
Tamanha qualidade vem em parte de um grande conhecimento do terreno onde o vinho é produzido, o qual é mapeado para que se saiba do comportamento das raízes em cada lote, que é subdividido em 7 parcelas, elas mesmas com sublotes. A colheita e seleção das uvas é feita de forma manual, seguindo para uma fermentação que leva de 8 a 10 dias, seguida de maceração, num processo que vai até 25 dias. Em seguida, é feita a guarda de 14 a 15 meses em barricas de carvalho francês, por volta de 75% delas novas. Após engarrafado, o vinho aguarda mais um ano antes de sair ao mercado.
Embora seja conhecido como um Cabernet Sauvignon, o Don Melchor conta também com uma pequena parcela de Cabernet Franc (após 2001), sendo que algumas safras já levaram pequenas porções de Merlot e, desde 2015, a Petit Verdot também entrou no corte, com 1% neste ano e 3% no ano seguinte. O corte resulta de uma prova de mais de 150 amostras, para que se chegue na proporção ideal que será lançada ao mercado.
Em evento realizado em São Paulo na presença do enólogo Enrique Tirado, foi degustada a safra 2015, que foi elaborada com 92% de Cabernet Sauvignon, 7% de Cabernet Franc e 1% de Petit Verdot. Esta safra tem todas as melhores características do terroir, com frutas negras e vermelhas encontrando nuances herbáceas, mineralidade (grafite), cedro e especiarias, numa complexidade deliciosa. A boca, como é de se esperar num grande vinho como este, é muito viva e mostra muito equilíbrio dos elementos. Embora permita uma guarda de 30 anos, já se mostra pronto, com a boca persistente e final frutado. Uma safra muito representativa de um ícone chileno.
Com tantos predicados, é de se esperar que este seja um vinho raro: são 150 mil garrafas anuais, suficientes para garantir um valor de mercado ainda razoável para um vinho do seu patamar (na casa dos R$ 550). Este é certamente um vinho inesquecível e que merece ser provado com muito cuidado, para que possamos compreender o motivo deste vinho ser um dos mais representativos e cultuados vinhos do Chile.
O Don Melchor pode ser encontrado na Ville du Vin, que fica na R. Leopoldo Couto de Magalhães Júnior, 490 - Itaim Bibi, São Paulo, SP.
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