Originária do Rhône, uva mostra qualidade nos 5 continentes
Conhecida como uma das uvas que mais demonstram seu terroir, a Syrah (ou Shiraz) tem um potencial de despertar paixões, dada a sua intensidade aromática e potência em boca facilmente identificáveis na maioria dos vinhos produzidos com ela, mas a diversidade de regiões que adotaram sua produção é capaz de surpreender qualquer enófilo.
A origem da Syrah é bastante controversa e cheia de hipóteses, com uma genética que mostra parentesco com a Teroldego e com a Viognier, mas vinculada com o Vale do Rhône. A Austrália também já possui uma boa história de produção dessa variedade, onde é normalmente chamada de Shiraz, com resultados excelentes. Suas particularidades a tornam uma opção comum à Cabernet Sauvignon e outras uvas bordalesas, cujos vinhos são normalmente vistos como mais uniformes e semelhantes.
Com o interesse por um vinho mais distinto, a produção de Syrah aumentou principalmente no final do século XX, e a uva acabou por se disseminar por todos os locais produtores em todos os continentes. Hoje, é possível encontrar bons exemplares em Portugal, Espanha, Itália, Califórnia, África do Sul, Chile, Argentina, e até mesmo no Brasil, onde a Vinícola Guaspari atraiu atenção ao produzir um vinho de excelente qualidade no interior paulista.
Em evento realizado no mês de Novembro em São Paulo, uma experiência gustativa com diversos varietais de Syrah, cada um de um local diferente, contou com a participação de ninguém menos que John Duval, considerado o maior enólogo especialista na variedade da atualidade, e que já foi o enólogo chefe da Penfolds Grange por 29 anos, tendo passado por mais de 46 safras da uva. Duvall foi acompanhado por Felipe Toso, enólogo-chefe da Viña Ventisquero, que hoje produz o Pangea, um ícone super-premium da vinícola, e o Tara Red Wine 2, elaborado artesanalmente com vinhas do Atacama.
Como o melhor do vinho é sempre a sua degustação, a melhor forma de entender as características dos diferentes resultados obtidos com a Syrah é lendo as notas de degustação obtidas com cada um dos vinhos provados, que seguem abaixo.
Europa - Louis Bernard, Hermitage AOC 2010
Mostra notas de frutas maduras (figos, amarena), com especiarias doces marcantes, toque de chocolate e notas minerais (xisto, calcáreo). A boca mostra seriedade com uma entrada já balsâmica, com bastante acidez e taninos firmes. Apenas na degustação se sentem as frutas, que não são protagonistas aqui, mas que complementam muito bem o conjunto do exemplo de vinho europeu feito com Syrah.
América do Sul - Tara, Atacama 2013
Neste exemplar produzido de forma totalmente artesanal e num terroir extremo, as frutas passam à frente no nariz, já maduras, mas com alguma herbacidade e especiarias vibrantes, com um mineral ao fundo que complementa muito bem o conjunto do vinho. A boca acompanha essa vivacidade, apresentando uma acidez acomoanhada de sabores frutados e em equilíbrio com os taninos mais domados que no exemplar francês. Muito bom para acompanhar molhos vermelhos.
África - The Joshua, Stellenbosch 2012
O africano que traz elementos típicos e outros inesperados mostra aromas de frutas vermelhas e negras bastante especiadas, com nota de café, um fundo floral (violetas) e toque defumado, bastante complexo - benefícios que também vem da vinificação com Viognier. A boca é generosa, trazendo a potência e acidez da Syrah num vinho quase mastigável.
Europa - Perbruno IGT, Toscana 2008
O Syrah feito numa das mais emblemáticas regiões vinícolas do mundo traz como maior característica do terroir a acidez, com frutas negras, especiarias (anis estrelado) e alguma mineralidade, já evoluído mas com muito frescor. A boca é bastante estruturada, com toda a intensidade da uva, taninos rústicos, um dos mais distintos do painel. Praticamente implora por carnes grelhadas, mostra ótimo potencial de harmonização.
Austrália - Entity Shiraz, Barossa Valey 2010
No Barossa Valley estão algumas das vinhas mais antigas do mundo, chegando a ultrapassar 125 anos, o que é o suficiente para dizer que ali a uva achou seu lar longe do lar. Aromaticamente, a explosão dá lugar à gentileza das notas de romãs com especiarias e tabaco achocolatado. A boca é das mais generosas, com uma picância agradável e taninos bem afinados, mas ainda marcantes. O final frutado é uma alegria à parte!
América do Sul - Pangea, Apalta 2012
O ícone da Viña Ventisquero é tudo que se espera de um grande Syrah: carnudo, potente, complexo, envolvente. Com aromas de frutas negras, herbacidade, caramelo e madeira no nariz, em boca traz um equilíbrio ímpar dos elementos, no qual todos são perceptíveis logo em primeiro plano: acidez, álcool, açúcar, frutas, taninos... Uma feliz união da experiência da vinícola com aquele que é considerado um dos melhores terroirs do Chile!
Austrália - Eligo, Barossa e Eden Valleys, 2010
Eligo é um vinho feito de vinhas selecionadas por John Duval entre as áreas preferidas nos seus vinhedos, para entregar complexidade, estrutura e textura no palato. O resultado é um vinho mais terroso, com notas de couro, chocolate e especiarias no palato, no qual as frutas acrescentam complexidade sem prevalência. Aqui, novamente a explosão cede lugar à elegância dos aromas, mas a boca traz toda a potência da uva, com acidez elevada, taninos persistentes, sabores intensos e muito generosos. Sem dúvida, um dos grandes Shiraz da Austrália, símbolo do legado de Duval.
Sem dúvida, algumas das características da uva são comuns a todos os vinhos, mas a variedade de aromas obtidos em cada um dos vinhos demonstra que, dependendo do seu terroir ou da forma de vinificação, a Syrah consegue demonstrar uma grande capacidade de adaptação, produzindo vinhos distintos e de grande qualidade, capazes de agradar a todos os amantes do vinho.
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