Quem gosta de vinho sabe que ele resulta de diversos fatores, e que as mesmas uvas, em condições distintas de terreno, clima e cultivo, podem resultar em bebidas totalmente distintas: este é o conceito de terroir que a Vallontano, um pequeno produtor brasileiro do Vale dos Vinhedos inspirado nos melhores europeus, faz questão em seguir.
A inspiração nos vinhedos europeus, em especial os da Borgonha, vem do enólogo Luís Henrique Zanini, cuja carreira inclui uma passagem pelo mítico Domaine de Montille, onde o conceito de terroir é levado ao extremo no desenvolvimento de alguns dos melhores vinhos da região. O grande respeito pela terra levou à adoção de medidas que hoje pautam a indústria do vinho, como o abandono de substâncias tóxicas (herbicidas e agrotóxicos) - tanto que a co-proprietária Ana Paula Valduga observou que seus vinhedos, ao contrário de tantos outros, ainda é frequentado pelas abelhas, num sinal de saúde da fauna das terras.
A produção é limitada pelo tamanho da propriedade: são, no máximo, 70 mil garrafas anuais entregues ao mercado, numa clara demonstração que a preocupação não é enfrentar os grandes nomes do vinho brasileiro, mas sim ter um produto que demonstre o melhor que a região pode produzir.
Aliás, é sempre bom lembrar que o vinho que segue os conceitos de terroir não pode ser analisado com a mesma medida de outras regiões: um Cabernet Sauvignon ou um Merlot do Vale dos Vinhedos terá características totalmente distintas de um chileno, ou californiano - e isso não só é bom para a região, mas também para o consumidor, que deve ter a consciência da distinção e celebrar essa diversidade.
Embora a casa destaque que 70% dos seus vinhos sejam espumantes, seu Chardonnay e seus tintos são alguns dos melhores exemplares do que temos vinificado pelo Brasil. A qualidade pode ser vista como resultado da persistência em alcançar a qualidade no que é produzido, o que também é evidenciado na idade média das vinhas, que começam a alcançar os 20 anos, enquanto muitos produtores seguem modismos e jogam fora anos de trabalho para ter nos rótulos o nome da "uva do momento".
A seriedade no trabalho da vinícola atraiu a atenção de uma gigante das importações, a Mistral, que levou a uma parceria para a distribuição dos vinhos da Vallontano, que hoje estão à disposição de todo o país. De acordo com Ana Paula Valduga, 85% das vendas são realizadas por essa relação numa decisão acertada para que todo o país tenha acesso aos seus vinhos.
Embora não seja participante assídua de avaliações, seus produtos são reconhecidos sempre que surgem nos comentários de especialistas. Para o Descorchados, por exemplo, o excelente Extra Brut L. H. Zanini 2015 foi o melhor desta categoria produzido no Brasil, e o Rosé Brut alcançou ótimos 90 pontos.
Respeito ao terroir, grande conhecimento tanto de conceitos de produção quanto das condições locais e vontade de colocar a individualidade da região em cada rótulo. A Vallontano pode até ser um pequeno produtor, mas de relevância imensa para o vinho brasileiro.
Notas de Degustação
Vallontano Espumante Brut
Elaborado com Chardonnay e Pinot Noir, é feito no método Charmat, resultando num espumanto mais fresco. Aliás, frescor e vivacidade são marcantes, com notas de frutas brancas e cítricas, e algum elemento amanteigado no nariz. A boca é seca, sem ser excessivamente séria. Delicioso, é um espumante de classe mundial.
Preço: R$ 68,90
Vallontano Espumante Rosé Brut
Feito com Pinot Noir (para a cor), Chardonnay e Riesling Itálico. Ótima acidez, o que confere grande potencial gastronômico. Delicado nos aromas, que trazem notas florais e morango, na boca é mais vibrante. Excelente Rosé, que já chegou aos 90 pontos no guia Descorchados.
Preço: R$ 71,70
Vallontano Espumante Extra Brut L. H. Zanini 2015
Um ótimo espumante até mesmo no rótulo, presente de Maurice Rosy ao enólogo que empresta seu nome a este espumante. Chardonnay e Pinot Noir vão no corte, que segue o método tradicional com 2 anos na segunda fermentação - que não leva licor de dosagem, mas sim o próprio espumante (que o classificaria tecnicamente como um Brut Nature). Considerado já o melhor espumante Extra Brut do Brasil, é realmente excepcional, com aromas de frutas tropicais, flores brancas e panificação, muita cremosidade em boca, acidez perfeitamente equilibrada.
Preço: R$ 99,50
Vallontano Chardonnay
Frescor, mas com uma nota de frutas brancas e amarelas bem saboroso (entre pêssegos e banana), com alguma herbacidade (erva doce). Untuoso e limpo no paladar, tem boa persistência. As características podem facilmente indicar como este vinho é, realmente, um típico "Chardonnay do Vale dos Vinhedos"!
Preço: R$ 65,50
Vallontano Cabernet Sauvignon 2012
Tinto sem passagem por madeira, mostra um potencial excelente da Cabernet Sauvignon na região. Nos aromas, as frutas vermelhas vêm com elementos ligeiramente terrosos, óleo de cítricos e uma nota de eucalipto, indicando também a tipicidade da região. Feito apenas em alguns anos, dadas as dificuldades climáticas, é bastante distinto. Teor alcoólico um pouco mais baixo (12%), é um CS consideravelmente mais discreto, mas muito versátil.
Preço: R$ 59,90
Vallontano Reserva Merlot 2012
12 meses em barrica francesa, tem taninos marcantes e uma acidez elevada que indicam até potencial de guarda. Aromas de frutas vermelhas maduras, especiarias (pimenta preta), couro, floral (rosa), alguma complexidade. Surpreendente e também gastronômico.
Preço: R$ 71,50
Vallontano Reserva Cabernet Sauvignon 2008
A prova concreta de que os vinhos brasileiros envelhecem muito bem! Com 10 anos, tem os aromas de frutas maduras (cassis) bem resolvidos com a passagem de 12 meses em madeira, que dá apenas uma nota de especiarias. Uma elegância ímpar, tem paladar equilibrado, quase delicado para a uva.
Preço: R$ 66,90 (Safra 2012)
Na próxima vez que for a um restaurante e quiser um vinho genuinamente nacional, e a um preço mais que convidativo, um Vallontano pode ser uma das melhores escolhas da carta. Para a sua adega, a Mistral (www.mistral.com.br) também vende pelo site.
Comments