A jovem vinícola que nasceu de um projeto familiar mais antigo e que busca trazer conceitos inovadores aliados à tradição produtora dos proprietários
A Valparaíso é uma vinícola do município de Barão - RS que é ainda muito jovem, cuja produção de uvas começou apenas o início de 2006 e primeiras safras comercializadas ainda mais recentes, mas que já conta com a experiência do proprietário Arnaldo Argenta tanto na busca de uma produção cada vez mais natural quanto na utilização de técnicas que elevam a qualidade da produção, conforme explica Nayana Argenta, filha do proprietário que apresentou os ótimos vinhos.
A principal busca da Valparaíso, através de seu proprietário, um engenheiro agrônomo apaixonado pela profissão que levou diversos outros produtores agrícolas (incluindo vinícolas) a procurarem seu acompanhamento na busca de zerar os defensivos agrícolas para uma produção cada vez mais sustentável, utilizando técnicas que minimizem a necessidade desses produtos que geram custos e uma dependência cada vez maior da sua utilização - além de terem resultados nefastos na saúde de quem os consome.
O nome da propriedade veio antes da sua compra, pois lá já havia funcionado até os anos 70 a Granja Valparaíso, maior produtora nacional de vinhos a granel voltados principalmente para exportação. O atual proprietário, então, trabalhou por dois anos desenvolvendo a vinícola, eliminando quase todas as variedades americanas, preparando o terreno em patamares e escolhendo terrenos com mais ventilação e insolação, conseguindo seu registro apenas em 2020 (embora haja safras anteriores).
São hoje 45 variedades de uvas produzidas em campos diferentes, 9 das quais são vitis viniferas, espalhadas por 7 hectares do total do terreno. O prédio principal da Cantina é da década de 30, e foi preservado por contar com paredes originais de basalto, cujo interior permite o controle de temperatura natural. Entre as heranças da propriedade estavam pipas de 15 mil litros, uma das quais até foi doada à Prefeitura da cidade de Barão.
A vinícola busca reduzir a intervenção ao mínimo, utilizando leveduras selvagens e tendo um produto muito mais fiel ao que o terroir apresenta, o que pode explicar sua personalidade distinta em taça. O produtor não busca alterar seu patamar porque entende que a sua prática não se iguala a uma produção orgânica, e também porque algumas das práticas não se aplicam a ela - o uso de corretivos no solo, mesmo autorizados na agricultura orgânica em algum grau, são dispensados por ele, por exemplo.
Por trabalhar com vinhedos próprios, a vinícola consegue trabalhar com lonas na proteção de umidade no Sistema de Produção Protegido de forma inédita em uvas viníferas no Brasil, o que evita fungos comuns às uvas brasileiras e possibilitando redução de até 90% de diversos defensivos antifúngicos e outros insumos que seriam necessários de outra forma. O método de irrigação segue o sistema israelense (gotejamento) para sustentar essa proteção, o que aumenta os custos mas traz esse resultado na qualidade da produção.
O cuidado na produção é contínuo, e vai desde a utilização de leveduras selvagens, clarificação natural do vinho (doze meses em tanque com decantação natural), ausência de filtragem e de correções enológicas e ausência de passagem por barrica (escolha do proprietário, que acredita que ela é agressiva aos aromas da uva): o vinho é resultado apenas da sua fermentação mesmo. Na filosofia natural, orgânica e biodinâmica, hoje a Valparaíso é a maior produtora do Brasil, e todos os seus brancos são feitos seguindo o método de produção de vinhos laranjas, para extrair o máximo de elementos do produto originário da terra.
Todo esse trabalho resulta numa produção de qualidade muito especial: o brix das uvas (grau de açúcar obtido na produção da uva vinífera), por exemplo, é compatível a uvas chilenas, o que concede um grau de maturação mais elevado e um caráter bastante próprio para os vinhos produzidos.
É realmente necessária uma dose de inovação para obter algo único, e a Valparaíso mostra que a tradição aliada à qualidade é o melhor caminho para obter algo único em cada garrafa.
Notas de Degustação
Vitale Moscatel
Esse espumante tem dois diferenciais: o primeiro é a presença da Torrontés, e o segundo é a colheita de uvas mais maduras, o que dispensa a utilização de sacarose para a fermentação. Vinificado no sistema Asti em tanques de inox, o espumante traz uma Asti em tanques de inox, o espumante traz uma complexidade mais elevada, com uma evolução já distinta na coloração dourada, perlage persistente e muito fina, e aromas que mostrar frutas amarelas e brancas acrescidas de um amanteigado e mel de Jataí já presentes, muito saborosos. A boca é delicada mas com todos os mesmos elementos bem demarcados, alguma persistência e final saboroso. futuramente, esse rótulo fará parte de outra linha, a Matturale, demonstrando que se tratam de vinhos feitos com as uvas bem maduras, e que aguentou até mesmo um envelhecimento muito bem-vindo. Um Moscatel de qualidade ímpar no mercado nacional.
Vitale Torrontés
A uva é mais conhecida na Argentina, e aqui a variedade utilizada é a mais aromática - um "vidrinho de perfume". Macerada com as cascas, se classifica como um vinho laranja - e nos aromas, vem a flor de laranjeira, com um frutado que se mostra em camadas que chegam até a um aroma de mamão verde e maçã. A boca traz uma untuosidade saborosa, com bom potencial gastronômico, ótima persistência e um ligeiro amargor típico da uva, mas sem incomodar. Tem um mineral que traz integração dos elementos e resulta em algo único para essa variedade!
Vitale Brasile - Rondinella e Pinot Grigio
Com uma produção de um Pinot Grigio mais discreto e uma Rondinella muito exuberante, o que se faz? Um corte, claro! O proprietário equilibrou o vinho com as duas uvas, e vai lançar ainda esse produto distinto, que resultou num rosado de coloração alaranjada muito bela, aromas frescos de frutas tropicais e de caroço, mas com um fundo de banana madura interessante. A boca traz também untuosidade e potencial gastronômico, com boa persistência e um final limpo e saboroso. Novamente, distinção e personalidade são o mote!
Vitale Isabel Rosé
Uma uva americana? Sim, claro! A Isabel é a base da vinicultura brasileira, que deve muito a ela, então a Vitale faz esse varietal, que é um dos melhores exemplares do país. Um aroma muito familiar, que traz muito da própria uva com notas de açúcar que não estão no paladar, totalmente seco e com acidez elevada, muito boa. Esqueça completamente seus preconceitos - este vinho está na carta do D.O.M., escolhido pela sua relação com a produção nacional e, claramente, pela sua qualidade.
Vitale Sangiovese
Feito no estilo Claret, ou um tinto que não passa por prensa (e contendo apenas a parte mais nobre da uba), é um vinho que entrega muito mais que aparenta. Tem as notas terrosas típicas, mas com muita fruta fresca (groselha, cereja), ótima acidez em boca, taninos bem arredondados e persistência muito prolongada. Quer tomar um tinto com sushi? Esta é a sua opção!
Vitale Nebbiolo
Também feita como um Claret, traz aquele delicioso defumado típico da uva acompanhado de notas de morango maduro, muito agradável no nariz. A boca vem com boa acidez, delicadeza e persistência, com um final ainda frutado e muito limpo. Esse vinho mostra que realmente é preciso ter uma dose de loucura para produzir algo tão distinto no Brasil, mas o resultado é um golpe de lucidez para quem busca algo único e de qualidade.
Os vinhos podem ser encontrados na Le Bon Vin, loja boutique na R. Luis Coelho, 170, próximo à R. Augusta, onde também funciona seu Winebar. Mais informações no Instagram.com/lebonvin.br
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